Antes de entrar na discussão sobre o titulo deste artigo, precisamos entender o que é um negócio social. O termo, a princípio, foi definido pelo Nobel da Paz Prof. Muhammad Yunus:
Negócio Social é uma empresa sem perdas nem dividendos, projetada para atingir um objetivo social dentro do mercado altamente regulado de hoje. É diferente de uma organização sem fins lucrativos porque o negócio deve buscar gerar um lucro modesto, mas este será usado para expandir o alcance da empresa, melhorar o produto ou serviço ou de outras maneiras que subsidiem a missão social.
Deixando de lado a polêmica dos dividendos e lucro modesto, que particularmente não vejo problema algum ser praticado uma vez que o mais importante (e a maior métrica deste modelo) é justamente avaliar e maximizar o impacto na sociedade, gostaria de focar nesse momento nos princípios mais relevantes em um negócio social no meu ponto de vista. O objetivo é superar a pobreza* em um ou mais dos diversos problemas existentes que ameaçam as pessoas e a sociedade como, por exemplo, educação, saúde, acesso a tecnologia, meio-ambiente, saneamento básico, segurança, etc.
*Pobreza é a privação das capacidades básicas de um indivíduo e não apenas o fato de possuir renda inferior a um patamar preestabelecido. | conceito de pobreza definido por Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia
Hoje, no Brasil, absolutamente todos os itens citados acima requerem atenção imediata, pois não funcionam como deveriam. Estamos bem longe disso. A nossa base da pirâmide (formada pela classes D e E) contribuem tanto quanto os outros e recebem cada vez menos dos serviços básicos, fincados na Constituição Federal como um direito.
E como resolvemos essas questões?
Depender de uma melhoria na capacidade do governo (todas as esferas*)? CLARO QUE NÃO! Já que o governo não faz, outros fazem! Não dá para esperar e apenas brigarmos com eles na reivindicação nossos totais direitos. As coisas precisam andar paralelamente.
Eis que surge nesse cenário o empreendedorismo social. Idéias que se tornam produtos e/ou serviços para fazer o papel de outrem, dando condições dignas para os cidadãos. Nos últimos anos, no Brasil, têm surgido muitas empresas nesse mercado, com o apoio de diversas organizações sem fins lucrativos. Uma delas tive o enorme prazer de conhecer durante alguns encontros que ocorreram na nossa turma no primeiro semestre de 2013: a Artemisia. E uma das frases que sempre compartilho quando abordado para falar sobre o tema com estudantes e pessoas com o desejo de ser um empreendedor social, eu escutei pela primeira vez lá na Artemísia.
Muitas pessoas acreditam, por falta de conhecimento no assunto, que uma startup ou empresa social irá trabalhar sem rendimentos, como uma ONG. Como já definido no início deste artigo, se faz necessário que essa empresa ache um modelo de negócio sustentável e escalável, afinal, o crescimento e continuação desse impacto na sociedade depende desse aspecto.
Os negócios de impacto social possuem características em comum, abaixo destaco as principais:
- Foco na população de baixa renda, visando suprir as necessidades e características dessa faixa.
- Intencionalidade: está muito claro o objetivo da empresa, com uma missão bastante explícita: causar impacto social. E gerindo a organização estão empreendedores éticos e responsáveis.
- Potencial de escala: podem ampliar seu alcance por meio da expansão do próprio negócio; de sua replicação em outras regiões por outros atores; ou pela disseminação de elementos inerentes ao negócio por outros empreendedores, organizações e políticas públicas.
- Rentabilidade: possuem um modelo robusto que garante a rentabilidade e não depende de doações ou subsídios.
- Impacto social relacionado à atividade principal: o produto ou serviço oferecido diretamente gera impacto social, ou seja, não se trata de um projeto ou iniciativa separada do negócio e sim de sua atividade principal.
- Distribuição ou não de dividendos: um negócio pode ou não distribuir dividendos a acionistas, não sendo esse, porém, um critério para definir negócios de impacto social.
A Realização
Cada vez mais, vemos a migração de grandes executivos de multinacionais para o empreendedorismo com o foco em negócios sociais. Nunca ficou tão evidente que a real mudança se fará por esses atores.

Jorge Paulo Lemann, um dos empresários mais ricos do país, criou a Fundacão Lemann, organização que contribuiu para melhorar a qualidade do aprendizado de alunos brasileiros
Exemplos não faltam para listar aqui, mas para não me estender, quero destacar a investida dos empresários brasileiros, milionários, focando seus esforços na melhoria da educação do país, muitas vezes com planos audaciosos e metas ainda mais surreais, como o Jorge Paulo Lemman, à frente de sua fundação que leva seu sobrenome. O que esses atores, dos pequenos empreendedores a grandes empresários, possuem em comum? Além, claro, da oportunidade de um negócio sustentável, vem a realização pessoal, de mudar consideravelmente a vida de milhões de pessoas. Posso afirmar essa realização, pois provo deste sabor indescritível todos os dias.
O “salário” de um empreendedor social é composto dos cifrões ($$$) + a realização do impacto que sua empresa/idéia/produto/serviço causa. E na grande maioria das vezes, 99% dos casos, essa segunda “moeda” é infinitamente maior, e o faz continuar realizado.
Costumo dizer que o Brasil é o melhor país para o empreendedorismo social, um celeiro de possibilidades. Pois só há oportunidade de criar soluções onde há problemas. E, infelizmente, hoje o Brasil é um poço de grandes problemas nos serviços mais básicos da sociedade.
E você? Já pensou em mudar o cenário da sua comunidade ou do seu país? Me mande um comentário, gostaria de saber mais.
Espero que tenha gostado, até a próxima!